“Se não formos nós, ela falta a todas as consultas”

3 de Outubro, 2024
Staff do Instituto Visual Luiz de Camões e Radares à porta do Instituto

Instituto Visual Luiz de Camões ajuda a visão dos seus clientes e a do Projeto RADAR, funcionando como radar comunitário desde 2019.

Mal o Instituto Visual Luiz de Camões abre portas pela manhã, em Alcântara, já os primeiros clientes entram na ótica. Procuram os diferentes serviços prestados pela loja e a maior parte dos clientes supera os 50 anos de idade. Esta é uma das razões que levou o Instituto a tornar-se radar comunitário no Projeto RADAR, em 2019. Mas há mais.

“Antes de estarmos no Projeto RADAR, já éramos cuidadosos com os nossos clientes e conhecíamos muitos que estavam situação de solidão, isolamento, com dificuldades motoras… Isto que fazemos aqui é a nossa profissão. As pessoas vêm comprar uns óculos, mas falam. E nós percebemos as ‘red flags’, afirma Carlos Alves, um dos sócios do estabelecimento, juntamente com Jorge Coimbra.

Os transeuntes vão passando na rua a meio da conversa e os vidros transparentes permitem a ambos reconhecer as caras lá fora. Esta familiaridade com a população mais idosa do bairro possibilita não só notar se alguém deixa de ser visto, como observar a evolução do estado de saúde das pessoas.

“Por exemplo, há uma senhora que é nossa vizinha há 17 anos e temos percebido, no dia a dia, a degradação da sua saúde”, indica Carlos.

A atenção é total para estes casos, mas nem sempre a primeira abordagem à pessoa resulta, como num caso concreto que Carlos Alves descreve: “Não é uma pessoa fácil. Mas cada pessoa tem o seu ego, o seu feitio”.

Staff do Instituto Visual Luiz de Camões responde a perguntas de jornalista

Por vezes, Carlos e Jorge têm de ser ainda mais ativos na procura do bem-estar dos seus clientes, quase numa relação de cuidadores.

“Preocupamo-nos sobretudo com a saúde e se as pessoas têm alguém que as acompanhe, ou que lhes lembre, por exemplo, a data das consultas. Temos uma senhora a quem o Centro de Saúde manda SMS com a data da consulta e ela não sabe ver. Então pede-nos para vermos no seu telemóvel e, às vezes, já passaram três dias da data. Então vamos beber café e pedimos para ver o telemóvel e as mensagens. É um bocado invasão de privacidade? É. Mas se não formos nós, ela vai faltar a todas as consultas. Temos esta proximidade”, refere o sócio do Instituto.

A segurança é outra das questões a ter em conta quando se trata de pessoas de idade avançada e os dois sócios do Instituto Visual Luiz de Camões já tiveram de chamar a PSP, quando notaram que um homem extorquia dinheiro a um idoso do bairro, que por sua vez acreditava estar a ajudá-lo por compaixão. Mais uma vez, só foi possível verificar esta situação pelo conhecimento das rotinas: “Esse senhor passa aqui todos os dias às 10h30 para ir buscar o jornal. Se não passar, notamos logo”.

Carlos e Jorge prometem continuar alerta com a população mais idosa do bairro e, como radar comunitário, atuar sempre que acharem necessário.

“Quando os clientes vêm comprar os seus produtos, eles, já por si, falam e nós só temos de estar atentos ao discurso. Quando temos aqui um cliente que diz que caiu, que tem uma prótese, que mora sozinho ou que ninguém lhe consegue fazer as compras, não vamos ficar quietos”, garantem.