A 3.ª edição das Jornadas do Projeto RADAR decorreu no passado dia 23 de setembro, no Auditório do Instituto de Segurança Social em Lisboa, reunindo cerca de uma centena de pessoas para refletir, partilhar ideias, perspetivar o futuro e consolidar o trabalho desenvolvido nos últimos anos no combate ao isolamento e solidão não desejada da população sénior na cidade.
O evento focou-se especialmente nas freguesias da zona central da cidade: Alvalade, Avenidas Novas, Benfica, Campolide e São Domingos de Benfica, territórios onde o projeto tem vindo a desenvolver ações desde a sua criação.
O evento contou com representantes de várias organizações parceiras do RADAR, que tiveram a oportunidade de partilhar ideias, perspetivar o futuro e consolidar todo o trabalho desenvolvido nos últimos anos no combate ao isolamento e solidão não desejada da população sénior da cidade.
A sessão de abertura foi marcada por intervenções de personalidades como Ângela Guerra, administradora da Ação Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que frisou que o RADAR “é um exemplo de trabalho colaborativo que deve acontecer entre as várias entidades e instituições que operam na cidade”. Para Ângela Guerra, um dos principais aspetos que valorizam o trabalho diário do RADAR é “o nível de proximidade que os mediadores do RADAR têm com as pessoas”, sublinhando que “com o RADAR reparamos que as pessoas confiam em nós, no nosso trabalho e na nossa missão”.
A importância do trabalho colaborativo e em rede foi também alvo de destaque nas intervenções de Luis Fernandes Moreira, Superintendente do Comando Metropolitano de Lisboa da Polícia de Segurança Pública, Miguel Soares, Diretor do Departamento para os Direitos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, Alexandre Rodrigues, Tenente-Coronel do Regimento Sapadores Bombeiros, Eunice Carrapiço, Diretora Clínica da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, e Sandra Marcelino, Diretora Adjunta do Instituto de Segurança Social que afirmou “há sempre insuficiência de recursos, mas é no trabalho em rede e em parceria que há terreno fértil para encontrar respostas”.
Mário Rui André, Coordenador do projeto RADAR, apresentou os principais resultados do Projeto nas cinco freguesias em foco, onde se encontram integradas cerca de 11.000 pessoas 65+ (cerca de 27% do total) e cerca de 1300 Radares comunitários, constituindo uma verdadeira rede local de atenção e apoio às pessoas com maior vulnerabilidade. Durante o ano de 2024 foram realizadas 150 ações de rua, um trabalho de aproximação quer aos residentes com 65 ou mais anos nos territórios das cinco freguesias, quer aos estabelecimentos de comércio local, que se constituem como radares comunitários e desempenham um papel crucial na sinalização de situações de risco, de isolamento e solidão não desejada para uma agilização de uma intervenção ajustada a cada contexto. Para além dos contactos presenciais, foram realizados 2.600 contactos telefónicos, que permitem um acompanhamento próximo das pessoas integradas no projeto, mas também cabo uma intervenção de caráter preventivo.
Durante a tarde, teve lugar o painel “Conversas Rápidas”, onde parceiros estratégicos do projeto, técnicos, residentes integrados na plataforma RADAR e comerciantes locais que funcionam como radares comunitários partilharam as suas perspetivas e experiências. Este formato dinâmico permitiu um debate vivo sobre o papel do RADAR na cidade de Lisboa e sobre a importância da proximidade no acompanhamento da população sénior, que muitas vezes se encontra isolada ou vulnerável.
Foi unânime a partilha que o RADAR é a parceria mais vasta na intervenção com as pessoas mais velhas da cidade. DE facto, o projeto conta atualmente com 31 organizações-chave que trabalham em rede, numa abordagem colaborativa. Foi referida a mais-valia deste projeto ter uma plataforma digital, acessível a todos os 345 utilizadores (focal point) o que facilita a partilha e transferência de informação e a articulação mais célere e eficaz na procura de respostas às situações de maior vulnerabilidade.
O executivo das juntas de freguesia de Alvalade, Avenidas Novas, Benfica, Campolide e São Domingos de Benfica estiveram representados e partilharam as suas experiências locais, reafirmando o compromisso de continuar a apoiar as iniciativas do Projeto RADAR nas suas comunidades.
A fechar as jornadas, a Professora Doutora Maria João Valente Rosa fez uma síntese das discussões e dinamizou a reflexão sobre o envelhecimento ativo e a necessidade de reforço da coesão social e das redes de vizinhança no apoio aos mais velhos, sobretudo em contexto urbano e recordou a frase de Charles Darwin, a propósito da essência do projeto RADAR: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.
Desafios para o futuro
Ao longo do evento diversos desafios foram identificados como cruciais para o futuro do Projeto RADAR. Entre as questões colocadas, salientou-se a necessidade de as entidades da cidade trabalharem de forma colaborativa e em rede para devolver o espaço público às pessoas, criando um ambiente mais inclusivo e acolhedor.
Um ponto crucial foi a necessidade de reforçar a divulgação e comunicação do projeto RADAR de modo a chegar a mais pessoas da cidade, e se tornar um verdadeiro movimento de Cidadania ativa. Algumas sugestões incluíram a distribuição de folhetos do RADAR em jornais das juntas de freguesia e em revistas de farmácias, além da realização de ações de sensibilização e divulgação do projeto em contexto escolar, desde o pré-escolar ao 1º ciclo. Estes esforços poderiam ajudar a promover a intergeracionalidade, combater o idadismo e aumentar a consciencialização sobre a importância do combate ao isolamento e solidão não desejada.
Outro desafio destacado foi a necessidade de identificar pessoas vulneráveis que não recorrem ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), geralmente as mais frágeis e isoladas. É desejável uma maior articulação com os Hospitais da Cidade e foi proposto que a Unidade Local de Saúde de Santa Maria colabore na identificação de potenciais beneficiários do RADAR, nomeadamente aqueles que recorrem frequentemente às urgências ou estão em processo de alta hospitalar, e que podem beneficiar deste projeto.
A teleassistência, atualmente dispersa entre várias instituições, também foi apontada como uma área que precisa de maior coordenação. O objetivo é criar um serviço único de teleassistência em Lisboa, capaz de fornecer uma resposta mais articulada e eficaz.
Outras propostas incluem o alargamento do RADAR a pessoas com 60% de incapacidade, independentemente da idade, a operacionalização do conceito de prescrição social, e o aumento das respostas na área da saúde mental. Projetos de habitação partilhada entre jovens universitários e seniores também foram mencionados como uma forma de promover a intergeracionalidade e a solidariedade entre gerações.
Foi também referido o potencial em integrar novos parceiros no projeto, especialmente aqueles que operam com novas tecnologias e inteligência artificial na área do serviço de apoio domiciliário, como uma forma de inovar e melhorar substancialmente o acompanhamento à população sénior.
As Jornadas constituem um espaço de reflexão e partilha entre os parceiros do Projeto RADAR e estes desafios mostram o quanto o projeto RADAR tem ainda para evoluir e se consolidar, sempre com o objetivo de reforçar o compromisso entre todos os envolvidos no desígnio da construção de uma cidade mais inclusiva, Com Vida para Todas as Idades.