“Nós somos o Chelas de ontem e o Marvila de hoje”
Onde já foi Chelas, agora é Marvila. No entanto, para quem lá mora há anos e todos os dias faz deste território da cidade de Lisboa o seu espaço de convívio e de lazer diário, Marvila é ainda sentido por muitos como o bairro de Chelas. Mas não só de pessoas se faz a malha urbana deste local da freguesia. Por aqui perpetuam comércios antigos, persistem cafés com história e instituições que “carregam às costas” o estigma de ser de Chelas. Um desses exemplos é o Centro Social Paroquial São Maximiliano Kolbe.
É neste centro, bem no meio do Bairro do Condado ladeado por paredes grafitadas, entre dois enormes prédios junto ao “corredor da morte” – nome que os moradores dão à passagem entre os prédios, que dezenas de “antigos jovens” fazem deste local a sua segunda casa. Aqui almoçam, aqui fazem trabalhos manuais, aqui convivem… Neste local, a porta está sempre aberta.
“O Centro Social Paroquial São Maximiliano Kolbe já existe na vida destas pessoas desde que nesta zona existiam apenas barracas. Começámos com um espaço dedicado a apoiar as mães que tinham que ir trabalhar e não tinham onde deixar os seus filhos bebés e fomos evoluindo para o que somos hoje”, conta Emília Vaz, animadora sociocultural do espaço.
Já dizia Sam The Kid, um dos artistas mais conceituados que saiu do bairro, numa das suas canções: “Chelas é o sítio, Chelas é o berço”. Este é o sentimento que muitas das pessoas que hoje são acompanhadas pelo centro têm. Embora seja reconhecido que o bairro está melhor, este é um local ainda muito estigmatizado pelo nome [Chelas].
“Existem gerações que são acompanhadas pelo Centro desde o início. Para muitas delas só o facto de virem de Chelas já é um peso muito grande e que não corresponde à verdade. Quem é daqui sabe que existe um espírito de comunidade e entreajuda muito grande”, afirma a animadora que está com a instituição desde o seu início.
A palavra que melhor define o Centro é “comunidade”, e foi a pensar neste espírito de entreajuda e de respeito pela comunidade que o centro, desde que abriu, em 1984, sempre se “apoiou” nas várias instituições e organizações que operam neste território.
Durante a Pandemia, o Centro Social Paroquial São Maximiliano Kolbe ganhou mais um parceiro, neste caso o RADAR, projeto da Misericórdia de Lisboa que visa identificar a população com 65 ou mais anos residente na cidade de Lisboa e construir sistemas de base comunitária de coesão social.
Desde então, a sinergia entre o centro e o RADAR tem vindo a desenvolver-se, tanto é que já depois da primeira abordagem da equipa de mediadores sociais do RADAR ter entrado em contacto com o centro, este foi convidado a ser um RADAR Comunitário.
“Quisemos desde logo ser um parceiro do RADAR. Mal soubemos que os colegas da Santa Casa estavam também eles inseridos na comunidade, fazia-nos todo o sentido trabalharmos em conjunto”, esclareceu Gabriela Marques, assistente social e responsável pela área sénior do centro.
A relação tem sido feita com ganhos de parte a parte. Enquanto a Santa Casa consegue dar a sua experiência polivalente, resultante de uma dinâmica de aprendizagem diária em vários bairros da cidade de Lisboa, o Centro Social Paroquial São Maximiliano Kolbe, pela sua proximidade com a população de Chelas, “consegue ser o parceiro ideal para chegar a estas pessoas”, conta a assistente social.
“Nós aqui já estamos habituados a trabalhar em rede e, no fundo, o que tivemos de fazer foi apenas articular melhor com este novo parceiro, que é o RADAR”, concluiu Gabriela Marques.