População +65 vê na ALB um lugar para escapar à solidão. Farmácia localizada na Estrela integra o Projeto RADAR desde 2019, sendo um contributo para sinalizar pessoas em situação de isolamento.
Todos os dias, dezenas de pessoas batem à porta da Farmácia ALB. Nem sempre para comprar medicamentos. Algumas querem apenas “dois dedos de conversa”. Outras veem nos profissionais da ALB alguém com quem desabafar. Esta farmácia é mais do que um local onde as pessoas compram medicamentos. É também um apeadeiro diário para muitos moradores da freguesia da Estrela, que veem na ALB um local para fugir à solidão. “Por dia, temos mais de 100 pessoas a fazerem compras aqui, mas se formos a contar com as que vêm cá só dizer ‘olá’ ou falar um pouco connosco, são muitas mais”, explica a diretora clínica. Para Filipa Costa a necessidade de os fregueses manterem contacto com as profissionais da farmácia deve-se a dois motivos: o espírito bairrista que se vive na Estrela e ao facto de as farmacêuticas serem, muitas vezes, boas ouvintes.
“Aqui há muitas pessoas de mais idade que já vivem sozinhas, que vêm cá e que querem conversar um pouco mais do que é habitual. Ou que vêm mais vezes à farmácia. Isso para nós já são sinais de alerta. São essas pequenas coisas que já ajudam a perceber algumas coisas e a sinalizar junto do Projeto RADAR algumas pessoas”, explica Filipa Costa, ao mesmo tempo que revela que a ALB já sinalizou cinco pessoas em risco de isolamento.
A associação da Farmácia ALB ao RADAR começa em 2019, meses antes de ser decretada a pandemia de Covid-19 em Portugal. Nessa altura, a equipa RADAR efetuava mais uma ação de rua na freguesia da Estrela. Entre os muitos estabelecimentos visitados, estava a farmácia dirigida por Filipa Costa, a quem deram a conhecer o RADAR, projeto de intervenção comunitária que pretende identificar a população 65+ da cidade de Lisboa.
A atenção aos moradores já era prestada pela ALB antes da atuação do RADAR, mas a iniciativa da Misericórdia de Lisboa veio redobrar o alerta para pequenos sinais de isolamento manifestados pela população. “Com a vinda do RADAR começamos a ficar ainda mais alerta para eventuais necessidades das pessoas. O facto de integrarmos o projeto também nos dá algum conforto, alguma tranquilidade, pois percebemos que o RADAR está pronto para atuar junto das pessoas que forem sinalizadas por nós”, confessa a diretora da Farmácia ALB.
O facto de o Projeto RADAR ter arrancado meses antes da pandemia de Covid-19 foi, para Filipa Costa, uma feliz coincidência. “A pandemia, sobretudo nas pessoas idosas, deitou-os muito abaixo. Alguns já estavam sós e mais sós ficaram”, frisa. Durante a pandemia, a farmácia já sinalizou três pessoas junto do RADAR, pois, devido à relação de proximidade mantida entre fregueses e profissionais da ALB, foi possível perceber a existência de um declínio no comportamento dos utentes. Mais do que sinalizar situações de risco, os radares comunitários ajudam a equipa do RADAR a fazer um levantamento da população, fornecendo mais informações sobre as pessoas sinalizadas. Para Filipa, o sucesso do RADAR deve-se, sobretudo, “ao trabalho de equipa estabelecido entre todas as partes envolvidas no projeto”.