O nome vem da família que ali faz o seu negócio de produtos naturais (e não só) há mais de 70 anos, longevidade que fez da loja um RADAR de referência em Benfica.
Não terá mais que 8 m² o mimoso estabelecimento na Estrada de Benfica que dá pelo nome de ‘Casa de Cafés Solposto’. Não é só uma casa de cafés, é um espaço onde os artigos, geométrica e imaculadamente alinhados nas prateleiras, fazem dele um regalo para quem lá entra.
Sérgio Augusto Solposto, ou simplesmente Serginho como todos o conhecem, é o rosto amigável e simpático da loja, uma espécie de ex-libris da freguesia de Benfica, que tem honras até de se ver exposta num outdoor ali perto.
Em 2019, as equipas do Projeto RADAR da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa começaram a passar pela freguesia, explicando a missão de identificar e apoiar os idosos que viviam sozinhos ou que precisavam de acompanhamento. Quando as mediadoras do projeto entraram na Casa de Cafés Solposto e apresentaram a iniciativa, Serginho imediatamente sentiu que aquilo fazia sentido. “Nós já fazíamos isso de certa forma. Era natural para nós estarmos atentos à população mais velha, oferecendo uma palavra amiga ou simplesmente um lugar para se sentirem acolhidos”.
Desde o início do RADAR que a Casa de Cafés o integrou com entusiasmo. Sérgio sabia que na zona a sua loja era um dos locais que mais contactavam com a população idosa. E por isso acreditava no papel social que o seu estabelecimento desempenhava. “Nestes dias tão quentes que se têm feito sentir, por exemplo, nós brincamos com os clientes mais velhos, perguntamos se já beberam água, se estão a ter cuidado com o calor, e sugerimos que evitem sair nas horas mais quentes. É também uma das formas de cuidarmos deles, mostrar que estamos atentos”.
Mas nem sempre é fácil. Há pessoas que, apesar de precisarem de apoio, recusam-no. “Como aquela senhora que desmaiou à porta do café. Chamámos a ambulância e fomos pedir ajuda à farmácia em frente. Mas quando a senhora acordou, recusou qualquer ajuda adicional, não queria sequer que chamássemos o marido”. Sérgio respeitou, mas continuou a ficar atento.
Casos há também, mais complexos, de pessoas que, por orgulho ou vergonha, não aceitam apoio, mesmo que seja evidente que precisam. “É difícil para alguns admitir que necessitam de ajuda. Mas nós não desistimos. Vamos sempre mencionando o RADAR, explicamos que não é preciso estar sozinho, que há profissionais dispostos a ajudar. Nem todos aceitam de imediato, mas alguns, aos poucos, começam a perceber que o apoio está ali para o bem deles”.
Cinco anos depois de ter abraçado a missão do RADAR, que vê como deles também, a equipa da Casa de Cafés Solposto continua a ser esse ponto de encontro caloroso, no qual a população da zona encontra uma palavra amiga, além dos chás, dos cafés e dos produtos intemporais, como a farinha “Amparo”.
Para Sérgio, cada dia é uma nova oportunidade de fazer a diferença na vida de alguém. Até porque, como o próprio diz, “um dia posso ser eu a precisar”.
No fundo, para o Serginho (e para a família que o acompanha nesta missão), o que realmente importa é esta ideia de comunidade. “Acredito que se todos fizermos um pouco, o mundo será um lugar melhor”.
E na freguesia de Benfica, graças à Casa de Cafés Solposto e ao Projeto RADAR, esse “pouco” transforma vidas.