Fábio Rodrigues, dono da Pastelaria A Bolsa, a ser entrevistado

12 / 11 / 2025

“Ainda o cliente vem a descer a rua e sei logo o que se passa”

Fábio Rodrigues dirige a Pastelaria A Bolsa, um radar comunitário onde todos têm espaço para desabafar, pedir um café e levar um sorriso para casa.

O tilintar das chávenas de café não engana: estamos numa pastelaria movimentada, mas Fábio Rodrigues, que herdou o negócio dos pais, arranja tempo para nos receber. É precisamente o que faz diariamente na Pastelaria A Bolsa, que funciona como um radar comunitário: encontra tempo para ser os olhos e os ouvidos do Projeto Radar naquela zona do bairro, ou não se chamasse esta a Rua da Beneficência.

“Estamos aqui há quase 30 anos e antes já estávamos aqui ao lado. Entrámos no Projeto Radar há cerca de oito anos. A primeira abordagem foi feita com uns panfletos, com uma boa comunicação comunitária aqui no comércio local, e gostei muito. Vieram com a polícia e tudo!”, recorda Fábio, para quem fez “todo o sentido aderir. É uma mais-valia para o comércio e um conforto para as pessoas”.

Como em toda a cidade de Lisboa, os casos de isolamento e solidão também existem no bairro e o comerciante está sempre atento ao “feedback de alguns clientes que se sentem mais desamparados, seja porque os filhos já não moram lá em casa fora, seja por não terem mesmo família e viverem sozinhos”.

Fábio Rodrigues, dono da Pastelaria A Bolsa

Na Pastelaria A Bolsa, os clientes, sobretudo os de idade mais avançada, “podem desabafar: “Há essa simpatia de se juntarem aqui em espírito de comunidade”, lembra Fábio, que carinhosamente trata as clientes mais antigas por “namoradas da casa”.

“Às vezes vêm com a cara mais fechada quando entram, mas no outro dia já voltam com um sorriso. O segredo? É sermos ouvintes sem falarmos e sermos falantes com gestos de conforto. É tudo o que precisam, por vezes: uma palavra de aconchego e amizade, um simples beijinho, um abraço, um ‘não pense mais nisso, sabia que vai haver um passeio ou um mercado’… Sou uma pessoa positiva e tento contornar a situação”.

Hugo Gaspar, responsável do Projeto Radar que acompanhou esta reportagem, sublinhou que o estabelecimento de Fábio Rodrigues representa, na perfeição, o que se procura com este projeto: “Este é um radar comunitário que, efetivamente, cumpre o seu desígnio. Se me perguntassem o que é o projeto, é isto mesmo que o Fábio descreveu”.

E os anos de experiência a servir os clientes dão a Fábio um talento especial: não precisa de muito para saber o que vai na alma do lado de lá.

“Modéstia à parte, ainda o cliente vem a descer a rua e sei logo o que se passa. Quem está atrás de um balcão também tem de ser um bocadinho relações públicas. E psicólogos, psiquiatras, comunicadores… No que pudermos ajudar, cá estamos!”, conclui.