Farmácia Holon do Campo Grande funciona como radar comunitário nesta freguesia, mais do que dispensar medicamentos à população 65+, oferece também aconselhamento, simpatia ou simplesmente momentos de conversa.
Estamos a meio da manhã e o rodopio no Campo Grande não para. Centro nevrálgico de transportes públicos, há sempre muita gente a passar, apressada para apanhar o próximo metro ou autocarro. Mais devagar, alguns dos transeuntes mais velhos dirigem-se para a porta da Farmácia Holon, onde, nalguns casos, já encontram caras conhecidas. A farmácia funciona como radar comunitário desde o início do ano e em poucos meses nota-se já a ligação reforçada com a população.
“Temos um público muito variado, porque estamos abertos 24 horas por dia e situados num terminal de transportes públicos. Mas temos muita gente já de idade que nos conhece, porque estamos aqui há muito tempo e temos este tipo de atendimento sentado que agrada às pessoas. Às vezes vêm de mais longe e estarem sentadas e poderem falar mais um bocadinho é um tipo de acompanhamento diferente”, refere Carla Gonçalves, diretora da farmácia.
A população 65+ é, naturalmente, um dos públicos prioritários para a Farmácia Holon e, na opinião de Carla Gonçalves, registou-se uma mudança de comportamento neste período pós-pandemia. Os efeitos do isolamento forçado causaram mossa, e neste espaço tenta-se combatê-los diariamente, numa altura em que a inflação também se junta às dificuldades já conhecidas.
“Nota-se que as pessoas estão sedentas de atenção e informação, que ainda não foram compensadas depois da pandemia. Com o aumento do custo de vida, notamos também que vêm para tentar selecionar, dentro do receituário, o que conseguem levar como prioritário e o que fica para depois. Nota-se essa gestão mais apertada”, sublinha a responsável.
O lado humano da relação com os clientes nunca é esquecido, até na própria lógica por detrás do conceito de radar comunitário, pelo que, além de medicamentos, a Farmácia Holon disponibiliza também atenção a quem a visita e que, muitas vezes, só vem à procura disso mesmo.
“O envelhecimento da população em Lisboa é cada vez mais gravoso e, cada vez mais, notamos que a pessoa vem à farmácia, às vezes, sem receita para aviar, apenas para falar um bocadinho e ter algum tipo de atenção. Sentimos essa necessidade, mesmo não sendo nós uma farmácia de bairro. Mas sentimos isso com os nossos utentes habituais, especialmente nos mais idosos”.
Unidade móvel do RADAR em ação
A função de radar comunitário só faz sentido quando este está próximo das pessoas e uma das melhores formas para o fazer, no caso da Farmácia Holon, é a dinamização de unidades móveis de rastreio. Foi o que aconteceu no passado dia 17 de julho no Lumiar, em parceria com o RADAR.
Filomena Marques, mediadora do RADAR, esteve no local e salientou a importância destas iniciativas, que ajudam a detetar alguns problemas de saúde na população 65+, explicando ainda que a comunidade já abraça completamente este tipo de eventos.
“Algumas pessoas já conhecem o projeto e reconhecem até algumas mediadoras. Outras não, mas já ouviram falar nisto. Há um conhecimento muito maior do que havia no início do Radar, em que as pessoas estavam desconfiadas e tinham algum receio em falar connosco. Agora até há uma relação de proximidade”, finalizou.